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L996g Lawlor, Geometria Sagrada
index do verbete
A CORPUS
1 Natureza fundamental da matéria
1 Hoje abandona-se a pressuposição de que a natureza fundamental da matéria possa ser estudada a partir do ponto de vista da substância (partícula, quantum). Só pode ser conhecida pelo estudo da organização subjacente de suas formas ou ondas.
2 Tudo é mais bem compreendido como estruturas geométricas de forma e proporção.
3 A música é estudo das leis das proporções na freqüência dos sons. A ciência da harmonia musical é idêntica à ciência da simetria dos cristais.
4 Bertrand Russel: o que percebemos como diferentes qualidades de matéria são na realidade diferenças na sua periodicidade.
5 Onde está o fundamento de tudo o que é estável e constante? Biologicamente a codificação do dna não reside nos seus átomos concretos que compõem a substância dos genes (carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio), o veículo da continuidade é também a forma helicoidal da molécula.
6 É importante a forma e a concatenação entre as poucas substâncias que compõem o corpo molecular dos organismos (m.c. 1).
7 Nossos órgãos sensoriais funcionam em resposta às diferenças geométricas ou proporcionais, e não quantitativas, inerentes aos estímulos que recebem. Nosso sentido da visão difere de nosso sentido do tato apenas porque os nervos da retina não estão sintonizados na mesma ordem de freqüências dos nervos que percorrem nossa pele. As faculdades perceptivas são resultado de diferentes reduções proporcionadas de um vasto espectro de freqüências vibratórias.
2 A prática da geometria
8 A geometria, medida das parcelas de terra após o fim da inundação, representava o restabelecimento do princípio da ordem e da lei sobre a terra.
9 A geometria, medida da terra, é o estudo da ordem espacial mediante a medição das relações entre as formas.
10 A prática da geometria era uma aproximação à maneira como o universo se ordena e sustenta.
11 Acima do nível dos tipos, forma aparentes, está o nível do arquétipo, o princípio ou poder-atividade, um processo que a forma típica apenas representa. O arquétipo tem a ver com os processos universais ou modelos dinâmicos que podem ser considerados independentemente de qualquer estrutura ou forma material. A brida representa no concreto a função de alavanca, o princípio de que as energias são controladas, especificadas e modificadas mediante os efeitos de angulação.
12 Os antigos representavam como deuses os poderes ou linhas de ação pelos quais o espírito se concretiza em energia e matéria.
13 Há uma raiz comum das palavras ângulo e anjo.
14 O ângulo é fundamentalmente uma relação entre dois números. Foi usado no simbolismo antigo para designar um grupo de relações fixas que controlam sistemas complexos ou modelos interativos.
15 Assim os arquétipos ou deuses representavam funções dinâmicas que vinculavam entre si os mundos superiores da interação e o processo permanente com o mundo real dos objetos concretos.
16 Platão: a realidade consiste em essências puras ou idéias arquetípicas, de que os fenomenos são pálidos reflexos. Idéia em grego é forma. As idéias não podem ser percebidas pelos sentidos, só pela razão pura. “Os geômetras estudam o quadrado em si, e não a imagem que dele desenham”.
17 Para os pitagóricos o número e a forma a nível ideal era um só. Tudo está ordenado ao redor do número. Mas o número não é simples quantidade, está impregnado de qualidade. A dualidade, a Trindade, a quaternidade, não são simples compostos de duas, três ou quatro unidades, mas um todo ou unidade em si mesmas.
18 A diagonal do quadrado(1,442... ou √2), assim como a circunferência do círculo (3,1316... ou Pi), será sempre um número incomensurável ou irracional (ou indizível, para os pitagóricos), uma dízima. Mas em geometria a diagonal e a circunferência, consideradas no contexto da relação formal (a diagonal relativamente ao lado, a circunferência relativamente ao diâmetro) são realidades identificáveis, evidentes em si mesmas. O número se considera como relação formal, função.
19 Isso abre a porta para uma realidade superior do número, que é acima de tudo relação. Quaisquer que sejam as quantidades, a relação continua invariável, porque o aspecto funcional do número não é grande nem pequeno, nem finito nem infinito: é universal.
20 O um representa o princípio da unidade absoluta, simboliza deus. Representa um ponto, o bindu, a semente da mandala, o círculo perfeito (m.c. 2).
21 O dois representa o princípio da dualidade, o poder da multiplicidade. É a linha.
22 Três representa a trindade, o triângulo, a transição qualitativa dos elementos abstratos do ponto e da linha ao estado tangível e mensurável denominado superfície. O triângulo é o canal de nascimento por onde os poderes transcendentes da unidade e sua divisão inicial numa polaridade devem passar para entrar no reino manifesto da superfície. É a mãe da forma.
23 O quatro representa a primeira coisa nascida, o mundo da natureza, porque é produto do processo procriador, 2 x 2. O quadrado representa a materialização.
24 Toda matéria elementar ou inanimada vibra molecular ou atomicamente e todo o corpo vibrante emite um som. O estudo do som é uma chave explicativa para compreensão do universo.
25 Quando fazemos soar a oitava perfeita há uma coincidência em vários níveis: é a mesma nota, mas diferente, é o círculo, uma espiral desde uma semente até uma semente nova.
26 Se a amplitude da corda é dividida por 2 o número de vibrações por segundo se multiplica por 2: a metade cria o dobro, ½ cria 2, seu reflexo oposto.
27 O espírito essencial da percepção da harmonia é o único momento sobrenatural verdadeiro: uma experiência tangível da simultaneidade dos opostos.
28 A inteligência ótica (visual, analítica, seqüencial, lado esquerdo do cérebro), para formar um pensamento, compõe uma imagem mental. Mas o ouvido (a inteligência auditiva, ligada ao lado direito do cérebro) usa uma resposta imediata e sem imagem, de ação expansiva, e que evoca uma resposta de centros emotivos. Liga-se a experiências subjetivas, emocionais, estéticas ou espirituais, mas também intervém quando a razão percebe relações invariáveis: é possível ouvir uma cor ou um movimento. Reconhece padrões no espaço, ou conjuntos. Pode perceber simultaneamente os opostos e captar funções que parecem irracionais à capacidade analítica. O lado esquerdo capta organização temporal e seqüencial, e o direito absorve ordens espaciais e simultâneas.
29 Acelerar nossa evolução superando as limitações do determinismo biológico que constrangem os outros organismos vivos é o propósito da geometria sagrada, como também da yoga, da meditação, das artes.
3 Geometria sagrada, metáfora da ordem universal.
Rosácea da basílica de Saint-Denis. O tema é a Criação, com Deus no centro, os seis dias da Criação no segundo círculo, o Zodíaco no terceiro círculo representando a harmonia da ordem celeste e, no círculo maior, os trabalhos dos homens que representam a ordem da terra. Tudo se expande e difunde a partir da irradiação do Bem. Disponível em: http://www.ricardocosta.com/pub/suger.htm - Acesso em: 25/02/2010. (apud C010i)
30 Cosmos: a realidade concebida como um todo organizado e unificado.
31 O quadrado representa a terra, abarcada num quádruplo abraço pela abóbada circular do céu e, portanto, submetida à roda do tempo em constante movimento. Quando o incessante movimento do universo, representado pelo círculo, dá passagem à ordem compreensível, surge o quadrado. O quadrado pressupõe por isto o círculo e é resultado deste. A relação entre forma e movimento, espaço e tempo, é evocada na mandala.
anchor: zero
32 A geometria antiga começa com o um, enquanto a moderna começa com o zero.
33 Os conceitos matemáticos são os protótipos da dinâmica do pensamento, da estruturação e da ação.
Borobudur: Grande construção em forma da Mandala Dupla Suástica, na ilha de Java, Indonésia. Sobre esse templo há um gigantesco Deva que ilumina, cura e inspira a todos os devotos da Senda que ali visitam. V. Dicionário gnóstico. Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/borobudur1.jpg
34 O zero é idéia recente. Surge na Índia, séc.VIII, momento de decadência espiritual. Escolas (sankara, hinduísta, narayana, budista) com ênfase em atingir um vazio totalmente impessoal, a cessação total do movimento no interior da consciência, a renúncia ao mundo natural para escapar do karma. Sunya (sânscrito): vazio.
35 Os sistemas romano e egípcio prescindiam do zero. Era um sistema decimal sem zero. Os árabes adotaram o zero, e a facilidade que ele propiciava às contas tornaram-no popular.
36 A teologia hindu não concebia o zero no início das séries: ele aparecia depois do 9. Só no fim do séc.XVI o zero na Europa foi colocado antes do 1, permitindo o conceito dos números negativos.
37 Antes, a adição de um número a outro sempre resultava numa soma maior que qualquer dos números originais. O zero anulou isso, e rompeu a lógica. Permitiu a criação de uma outra lógica, mental, complexa. Criou entidades numéricas e simbólicas não respaldadas por qualquer conceito verificável nem por qualquer forma geométrica: números relativos, decimais infinitos, irracionais, imaginários e literais. A invenção do zero permitiu que números representassem idéias que não têm forma. A palavra idéia teve de mudar de significado, deixou de significar forma. O zero criou uma separação entre o sistema de símbolos numéricos e o mundo natural.
38 O zero transferiu-se para a filosofia e a teologia, para a maneira de ver a natureza. Permitiu uma doutrina que nega a realidade do mundo material, o nihilismo espiritual, o ateísmo.
39 Do ponto de vista do mundo natural o zero não existe: é uma entidade puramente mental. A descarga do lavabo não conduz ao zero. Tudo fica aqui, conosco.
40 A noção de unidade, que governa as antigas matemáticas, não permite dicotomia entre matemática e mundo natural.
41 A unidade é impensável: para que qualquer coisa exista, deve, como afirmação positiva de si mesma, negar aquilo que não é. O frio só é frio porque é ne-gação do calor. Para que uma coisa seja, seu oposto deve ser também. Dá-se então o começo do mundo criado, a contingência da divisão da unidade em dois. Com o dois começam os números. Essa mesma lei governa nossa compreensão, porque para poder compreender qualquer estado devemos reconhecer e negar seu oposto.
42 Uma unicidade infinita que pode conter os bilhões. O uno não é plural, nem pode ser limitado ou descrito como soma de muitos. Mas contém o infinito porque excede toda limitação ou descrição mediante a multiplicidade.
43 Todos os elementos surgem da unidade central de acordo com a lei da inversão e da reciprocidade. Lei essencial da harmonia.
44 O hinduísmo tradicional sempre repousou sobre a noção do um, do divino, que se dividia dentro de si mesmo para formar seu oposto, criando a si próprio, o universo manifesto. Dentro do olhar divino sobre si mesmo, três de suas próprias qualidades se tornaram distintas, sat, ser imóvel, chit, consciência-força, e ananda, êxtase. O círculo, a unidade, se reafirma no conceito da real idéia, o pensamento de deus, o binda ou semente, o ponto geométrico, o limite entre o manifesto e o não manifesto, entre o espacial e o não espacial. O bindu é a semente-som. O divino se transforma em vibração sonora e prolifera no universo, dando forma e expressão a essa auto-idéia. O universo é o divino pronunciando seu nome para si mesmo.
45 O universo surge da palavra, uma vibração, uma materialização do pensamento divino. A palavra, saabda, Logos, é pura vibração e é a natureza essencial de tudo que existe. A música das esferas.
4 Ato primeiro: divisão da unidade.
46 O círculo é o símbolo da unidade não manifesta, enquanto o quadrado representa a unidade serena, prestes a se manifestar.
47 Qualquer número multiplicado por si mesmo é um quadrado. A cruz é uma ação-princípio que o quadrado representa perfeitamente. Todo nascimento representa cruzamento de contrários. A natureza é o nascido.
48 O quadrado representa a terra, a experiência consciente da existência finita, do nascido para a natureza.
49 Os lados do quadrado são retos ou curvos? A realidade do universo em sua totalidade é uma curvatura infinita, um movimento infinito. Mas há uma consciência que apresa temporariamente, tanto conceitual como perceptivamente, segmentos do contínuo universal, uma velocidade reduzida da consciência universal. O córtex tem poder de isolamento e detenção do devenir universal em perpétuo movimento, uma percepção segmentada da realidade. A objetivação é o ferrão do escorpião, causa uma paralisia da visão. A experiência da vida num corpo finito limitado visa descobrir e manifestar a existência sobrenatural do finito, descobrir como o finito pode conter intrinsecamente o poder de expressar o infinito. Pitágoras se ocupava de números inteiros, estados definidos e deteníveis, ex-pressões do marco geométrico mensurável do quadrado, símbolo da perfeição finita.
5 Prática 1: a √2
50 Axioma alquímico: tudo o que pertence à criação é formado a partir de um componente fixo e imutável (proporção) e um componente volátil e mutável (progressão).
51 A relação entre proporção e progressão, fixo e volátil, é uma chave de solução para a geometria sagrada: tudo que é manifesto no mundo físico ou no mundo mental pertence ao incessante fluxo das progressões em constante mudança; é apenas o reino não manifesto dos princípios que é imutável. Nossa ciência incorre em erro ao tentar atribuir leis e defini-ções fixas e imutáveis para o mundo mutável das aparências, e por isso modelos são descartados ou revisados constantemente, levando a um relativismo científico, filosófico, artístico. Mas os princípio geradores são imutáveis e permanecem. Nossa recusa contemporânea desses princípios surge porque temos procurado o permanente no mundo empírico, em lugar de o procurar na sua verdadeira morada, o mundo metafísico (p. 27).
52 A √2 representa o poder de multiplicidade que pode se estender tanto para uma extensão sem limites quanto para uma finitude extremamente pequena. Encerra um diplo paradoxo. As duas funções, rais e diagonal, coincidem no momento geométrico, a mesma unidade linear é ao mesmo tempo a raiz e a diagonal, a igualdade e a diferença. E a metade produz o dobro.
anchor: vesica
6 Prática 2: vesica piscis
53 Diagrama central da geometria sagrada no misticismo cristão da idade média. Mostra a √3, o cubo cortado pela sua diagonal, que representa o volume. E tudo no universo criado é volume. A formação de todo objeto requer volume, isto é, tri-angulação. A trindade é a base criativa de toda forma. O cubo é o símbolo mais elementar do mundo manifesto e formal, o mundo do volume.
54 Os círculos sobrepostos representam a interseção e o equilíbrio entre o mundo da consciência universal, solar, ouro, imutável, arquetípica, real, unificada, eterna, e o mundo da consciência empírica, lunar, prata, mutável, sensível, realista, plural, efêmera. A zona central, que simboliza o cristo, é a consciência equilibradora, proporcional, mediadora, consciência humana, união de céu e terra.
55 A partir da vesica, da divisão da unidade representada pelo círculo, forma-se o triângulo, o quadrado, o pentágono, o hexágono, o octógono, o decágono e o dodecágono.
v. Mandorla,Mundo
B SÍMBOLOS.
56 O 12 aparece com freqüência como número da mãe universal da vida. Vide a molécula de clorofila (p. 5).
57 A inundação anual do Nilo simbolizava o retorno cíclico ao primigênio caos aquoso
C MEUS COMENTÁRIOS.
58 1. Uma quantidade limitada de elementos multiplicada por uma quantidade limitada de configurações. Como os quatro elementos multiplicados pelos três estados?
59 2. O centro?
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
INI | ROL | IGC | DSÍ | FDL | NAR | RAO | IRE | GLO | MIT | MET | PHI | PSI | ART | HIS | ???